A vida que se esconde por trás das cortinas do teatro
Luzes, cenário, figurino, trilha sonora. Todos estes elementos aparecem nos palcos teatrais e são estrutura necessária para que as figuras do espetáculo tenham um poder ainda maior de encanto sobre a plateia. É tudo lindo quando visto em cima do palco, porém quem assiste uma peça de teatro não faz ideia de todo o trabalho que existe por trás das cortinas para que tudo saia perfeito. É para estas pessoas que o dia 19 de agosto foi dedicado e entrou para as datas comemorativas como dia do artista de teatro. O artista que decide viver do teatro vê sua vida tranformada em uma grande correria, pois são poucos os que conseguem se dedicar exclusivamente ao palco, sem precisar se dividir entre ele e as salas de aula.
É entre estes dois lugares que se divide a atriz e professora de teatro Natália Corradi Curioletti. Ela participa como atriz do grupo Fãs de Teatro, dá aula na casa das oficinas Dagobert Günther e também é professora do grupo de teatro Da Casa. Formada em artes cênicas e especialista em encenação teatral, Natália dedicou toda sua atividade de pesquisa artística às linguagens da comédia e da improvisação, embora trabalhe com seus alunos todos os tipos de teatro. “A rotina não existe. Quem trabalha com arte está sempre no desconhecido, é sempre um salto no escuro na hora de criar. Embora existam técnicas que nos apóiem, não temos como prever o que terá sucesso”, explica. Para Natália, é difícil casar esta efemeridade do teatro com a rotina do professor e conciliar tantos compromissos e funções diferentes em cada lugar.
A professora acredita que as frágeis políticas culturais que existem no Brasil sejam ainda a principal dificuldade existente na vida do artista de teatro. “A cultura é necessária e fundamental para o ser humano. As políticas públicas precisam fazer com que as pessoas percebam isto e valorizem a arte. Ainda existe também o preconceito de que ser artista não é ser trabalhador”.
Em busca do sonho
Viver da arte não é uma tarefa fácil, embora muitas pessoas lutem para conseguir realizar este sonho. A gasparense Letícia Hostins, 19 anos, fez um semestre de artes cênicas em Blumenau e ao perceber as poucas oportunidades e remuneração baixa que existe na região, teve a ideia de se mudar para o Rio de Janeiro. Quando chegou, as aulas das universidades já haviam começado e ela não pode se matricular. Desde então, trabalha no Sushi Leblon e usou o período que ficou sem aulas para tentar se adaptar à rotina da cidade maravilhosa. “O custo de vida aqui é muito alto e estou tentando me adaptar ainda. A cidade é muito grande, demoro muito tempo pra ir de casa para o trabalho e quase não tenho saído de casa. Quando decidi que vinha para cá, minha mãe achou que eu estava blefando e me deu a maior força. Quando ela viu que era sério, segurou a empolgação. Mas no fim, toda a minha família me apoiou”.
Letícia admite que o teatro é o que mais a encanta, porém seu desejo é de também participar de longas, curtas e tentar televisão. Entre suas principais inspirações estão Fernanda Montenegro, Osmar Prado, Lília Cabral, Joseph e Ralph Finnes e Nathan Lane. “Entrei na faculdade de Artes Cênicas sem muita esperança e acabei me apaixonando. Foi um teste para ver se eu gostava. Eu me identifico muito com isso, acho que vou fazer bem e isso vai me fazer bem”.
Eles também planejam uma vida nos palcos
Karina Spengler Schramm está ainda no segundo ano do ensino médio, mas já tem uma certeza: quer trabalhar com teatro. Integrante do Grupo de Teatro Da Casa desde o ano passado, ela já apresentou quatro peças, entre elas o Comédia Café, que fez parte da programação do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau.
Ela conta que recebe bastante apoio dos pais, que costumam acompanhar suas apresentações. “Sempre gostei de teatro, mas desde que entrei para o grupo me interessei ainda mais. Ele me encantou e senti vontade de continuar”, relatou a menina de 15 anos.
A visão que Karina tinha da vida teatral era muito diferente antes de fazer parte do grupo. Ela admite que achou que era mais fácil, mas agora sabe que para ser artista é preciso muito estudo, muita dedicação, tempo para ensaios e criação. Ela já sabe que terá uma rotina corrida no futuro e ainda assim pretende investir no teatro.
Participar do grupo também fez com que Richard Soeth, 16 anos, decidisse por este caminho. Richard começou a participar de oficinas de teatro da Casa das Oficinas Dagobert Günter aos 13 anos, quando uma pessoa passou na sua sala de aula para anunciar os cursos oferecidos pela casa. Gostou da oficina, continuou participando e quando surgiu a vontade de criar um grupo amador, ele abraçou a ideia.
Richard conta que o teatro o ajudou a ter mais conhecimento sobre o mundo da arte e que pela participação em festivais, pode conhecer artistas de outros estados e países e assim ter uma visão da realidade do teatro.
“Eu me sinto feliz fazendo teatro. Estar no palco é uma sensação difícil de explicar, de alegria mesmo. Quero fazer teatro não para ganhar dinheiro, e sim para ser feliz com a minha profissão”. Para o seu futuro, pensa em atuar e talvez fazer uma licenciatura, para que possa dar aulas ou até mesmo dirigir.
Ele faz coro às preocupações de Natália ao afirmar que o trabalho artístico não é valorizado na região.
A mãe do garoto, Elia W. Soeth, sabe do sonho do filho e de sua capacidade de atuação. “Ele é ótimo, grava texto rápido e tem muito interesse. Sempre faço a maior propaganda para minhas clientes irem assistir e vou sempre que posso”. Ela afirma que vai fazer o que puder para dar apoio ao filho o maior tempo possível e elogia o suporte que o departamento de Cultura dá aos integrantes do Grupo de Teatro Da Casa.
Elia acredita que ainda falta muito incentivo por parte do governo e empresas, além de uma maior participação da população em assistir os espetáculos. “Se houvesse este incentivo, mais crianças poderiam seguir este sonho”. Sua filha mais nova tem apenas seis anos, mas já mostra ser a maior fã do irmão.
A mãe conta que quando ela não pode levar a criança até as apresentações do irmão, ela chora de tristeza e que algumas vezes já chegou a ir junto com Richard aos ensaios do grupo de teatro. “Brincamos de atuar em casa e depois das apresentações ela sempre vem dizer o que mais gostou na peça”, conta Richard. A mãe não duvida que a pequena menina seja a próxima a entrar para a oficina de teatro.
Edição 1319
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